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Indistinguíveis, a genuína razão, o sopro de um deus.
Com que ânsias não nos outros buscamo-nos  precisamente onde nos mais repugna o encontrarmo-nos.
Invariável nela haja qualquer cousa que nos envergonha, a bem olharmos a boa acção nossa.
Quantas boas filosofias não consistem em cousas em última análise inaveriguáveis, sob égide doirada de verossimilhança. 
Na penumbra nevoenta mesma, os altos das metafísicas de ontem, os cumes dos naturalismos de hoje.
Que não haja classes com que ordenar os pensamentos nossos  prerrogativa de supremo artífice. 
Interessam-nos justamente as inaveriguáveis, dentre as cousas do espírito  perspectiva de artista. 
Apesar de contínuo fracassarmos, fazemo-lo  perspectiva de artista.
O artista como expressão não de individualidade, mas de tipo 
Tão-somente os mais imperecíveis dentre os instintos  os mais primitivos dentre os instintos  fazem fixar as elevações mais íngremes do espírito. 
Convêm mais às carnes que ao espírito, as ciências.
Talvez se possa argumentar no sentido de que a justiça não seja mais que uma sensacção, e que nos não interessem os sucessos empós o termo-nos dela fartado.
Talvez também se argüir possa no sentido de que todas as cousas a que chamamos 'o conhecimento nosso' nada mais sejam que arranjos mais ou menos complexos de signos e que, uma vez que esses arranjos específicos se eles próprios em signos convertam, se jamais logre conceber exaustão possível em as formas e configurações a que se prestem estas fantasmagorias, os signos, o que faz de todas as cousas sérias pouco mais, pouco menos que mero amanho de jogo.
Talvez se possa argumentar no sentido de tanta cousa 
Faz-se preciso saber escolher entre as tantas cousas que se nos obsequiam.
Todos temos nossas razões, como todos temos nossos cancros, nossas pústulas, nossas tumefacções.
Uma bruma, a intenção nossa.
É preciso certa candura, ou melhor fora que disséssemos, certa ingenuidade, para que se componha determinadas obras que nos tocam o espírito.
Que rara felicidade nos causa a pequena, obscura obra-prima do espírito, quando encontramo-la 
Em cada a obra encerra-se um próprio, específico demônio.
Que nasçamos nós próprios, eis o segundo ciclo do nascimento da obra do espírito.
Os céus, como as literaturas, suposições estéticas.